Jovens, risco e covid-19
QUE RISCOS PODEMOS GERENCIAR RACIONALMENTE e que outros são escolhas (mais ou menos conscientes) que decidimos correr em nossas vidas?
AS AGLOMERAÇÕES PROLIFERAM EM MEIO A PANDEMIA DA COVID-19
A interdição dos locais e as multas não são suficientes para impedir que jovens (e não só) se reúnam em casas noturnas, bares, clubes, chácaras ou imóveis arrendados para se divertir, beber, curtir música, dançar e, eventualmente, usar substâncias psicoativas, juntando 50, 500 ou mais de 1000 pessoas, a maioria sem máscaras, no calor da sociabilidade.
FESTAS CLANDESTINAS, BALADAS, BAILES E PANCADÕES divulgadas pela mídia são frequentadas por uma juventude no plural, pois há diferenças de classe, gênero, região, estilos, entre outras. Entretanto, algumas características são comuns a essa fase da vida: a importância das amizades, dos namoros, das experiências afetivas e sexuais, enfim, das experimentações. Por si só, essas características explicariam a dificuldade maior que os jovens têm de “ficar em casa” e de “não aglomerar”. Além disso, para a grande maioria dos jovens trabalhadores, pode ser contraditório ter que enfrentar o transporte público e os riscos de se expor ao coronavírus no cotidiano do trabalho, porém, ter que abdicar do usufruto da convivência, própria do tempo do lazer, com o objetivo de se proteger e proteger os outros.
AS EPIDEMIAS MOSTRARAM HISTORICAMENTE o quão desafiador é a mudança de comportamento. Na epidemia do HIV/Aids, a resistência ao uso do preservativo foi (e ainda é) uma grande dificuldade para impedir a transmissão do vírus. O imaginário também desempenha um papel fundamental, pois incita medo e, consequentemente, mecanismos de negação. Na covid-19, o fato de ter atingido inicialmente pessoas da terceira idade e com comorbidades, tem reforçado nos jovens o sentimento de invulnerabilidade, próprio da adolescência/juventude.
NA AUSÊNCIA DE UMA CAMPANHA COORDENADA DE INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO, e de exemplos dos políticos e autoridades sanitárias, fica ainda mais difícil incorporar mudanças de comportamento que podem ser mais fáceis (e possível) para uns, e mais difíceis (por vezes impossíveis) para outros.
LEILA JEOLÁS é antropóloga formada pela Unicamp (1988), tem doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP (1999) e pós-doutorado pela Université de Strasbourg-França (2009-2010). É professora associada da Universidade Estadual de Londrina (UEL) atuando no PPG em Ciências Sociais/UEL desde 2000. Compõe o corpo editorial da Revue des Sciences Sociales (Université de Strasbourg), desde 2010. Tem experiência nas áreas de Antropologia e Saúde, Antropologia e Juventude.