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Beto veio morar comigo

Beto veio morar comigo

Eu não estaria passando essa pandemia de forma mais ou menos harmoniosa se o Beto não estivesse aqui.

Beto veio morar comigo definitivamente em outubro de 2020 e aí meus dias ficaram mais coloridos. Sei que o apartamento é nada perto do espaço que ele tinha em casa, no chão, no jardim, na rua e telhados. Mas fazíamos falta um ao outro. Lá, Beto estava arrumando muita encrenca com outros gatos, embora seja castrado. Se metia em brigas, todas perdidas, e os machucados estavam ficando frequentes.

Longe, me preocupava com ele.

Até que venci o medo de trazê-lo. Medo dele sofrer longe da casa onde viveu todos os seus nove anos, medo de que sofresse na viagem, medo de que não se adaptasse ao apartamento e à nova vida.

Então descobri que o medo era meu, só meu. Eu precisava me adaptar à mudança, ao que a vida me apresentava, ao que escolhi.

Os animais se adaptam se a gente se adapta. Eles estão na nossa sintonia e essa é uma faca de dois gumes: são protegidos e vivem mais dentro de casa, mas também estão adoecendo, tendo doenças que nunca tiveram, as nossas doenças, muitas vezes. A proximidade cada vez maior com o ser humano trouxe mais afeto, mas também dores que não são suas.

Como os tempos mudaram, a medicina veterinária também está mudando, se adaptando ao chamado dos “novos bichos”, nós, velhos seres humanos, e os animais domésticos, tutelados de forma muito diferente nos últimos anos.

Médicos veterinários estão se dedicando a entender essa relação entre bichos irracionais e bichos racionais. Tem profissionais dedicados a traduzir essa ligação entre nós e os animais domésticos, nesse mundo louco que criamos e no qual nos embaraçamos.

Daniela Máximo, médica veterinária especializada em gatos, me diz que os bichos estão adoecendo porque captam nossa doença, nosso estado de espírito. Foi Dani quem me ajudou na mudança com o Beto. Quando lhe falei da minha angústia e do meu medo de levá-lo para perto de mim, com medo que ele sofresse, ela foi taxativa:

– Ele vai estar bem onde você estiver, e se você estiver bem.

Acreditei.

Beto e eu, tentando ser gente

A partir daí começamos a cuidar dessa mudança. Tanto eu como o Beto entramos num tratamento em que se utiliza florais quânticos e se trabalha a “natureza” do problema, a linha que nos une, o meu emocional e o emocional dele.

A gente se alinhou energeticamente, por assim dizer, passamos a vibrar na mesma frequência, e viajamos juntos 230 km para mudar de vida. Ele, talvez, muito mais que eu; mas, hoje, meses depois de tê-lo trazido, vejo que a mudança é em nós dois.

Essa mudança não teria sido possível sem traumas se não tivesse o acompanhamento de uma profissional especializada em gatos e em relações entre animais humanos e animais não-humanos.

É o que hoje alguns médicos veterinários estão estudando como a Família Multiespécie: nós, bichos humanos, apartados da natureza; e eles, bichos cem por cento bichos, começando a serem desprogramados pela natureza humana.

O que a gente pode oferecer a eles e o que eles nos oferecem, como nos unimos e como devemos nos comportar para que sejamos felizes e harmonizados?

Esses pensamentos e essas ideias de conviver em harmonia também integram o trabalho e a vida de médicos veterinários como a Ednilse Galego, profissional que me atendeu durante anos e que salvou meus gatinhos em diversas ocasiões. Com uma carreira recheada de estudos e dedicação, Ednilse me diz que seu caminho para a harmonia interna e para oferecer ainda mais respostas aos seres multiespécies passa pelo autoconhecimento, o que ela entende como amadurecimento e encontros consigo mesma e com os seres que recebe em seu consultório.

É uma vida dedicada aos bichos e, mais recentemente, entendendo a sintonia que precisa haver na família multiespécie para que todos vibrem na mesma energia.

Eu, que sempre amei bichos e tenho pelos gatos especial predileção, conversei com Daniela Máximo e com Ednilse Galego e aprendi ainda mais com suas experiências, ideias, dedicação e vocação.

As duas conversas estarão aqui no blog Ser Humana, assim que eu terminar de editar. Também isso estou aprendendo a fazer, além de procurar me entender melhor, entender os bichos e um pedaço dessa vida que me cabe.

No vídeo O aniversário do Beto, eu falo de nós dois.

Assista.